O diamante mandarim peito laranja
A mutação Peito Laranja
Por Ricardo Pereira
Vulgarmente chamada de mandarim "peito-de-fogo" ou "vermelho" esta mutação é muitas vezes mal compreendida e trabalhada por não se reconhecer o seu verdadeiro efeito na ave normal.
Quando consideramos qualquer mutação, o seu efeito deve ser comparado em relação ao fenótipo normal e não a outras combinações posteriores aque possa dar origem. Esta é uma das razões pela qual não concordo de modo algum com a criação e uso de nomes "comerciais" para algumas mutações por em nada contribuirem para a definição genética e, portanto, selectiva de uma ave ou linha. Pelo contrário, ao assumirmos nomes que não os reconhecidos estamos a dificultar a compreensão e aprofundamento das diversas mutações. Vejamos então este caso específico.
Esta é uma mutação recessiva autossómica. Causa uma substituição de toda a eumelanina por phaemelanina o que, visulamente, se mostra nos machos sobretudo pela cor do peito: laranja em vez de preto. Também a coloração da face e flancos é alterada (pois é naturalmente uma mistura de eumelanina e phaeomelanina) tornando-se estes laranjas. O efeito nas fêmeas é menos vistoso mas facilmente perceptível, estas mostram vestígios das bochechas de uma cor bege esbatida e dos flancos. Em ambos o sexos as marcas da cauda são também modificadas para laranja. O efeito visual é realmente o de uma ave com um peito laranja, de belo efeito, em particular nos machos. Todavia, temos de ter em conta que na maioria dos exemplares deste tipo o que se nos apresenta é não uma mutação simples, mas sim uma combinação com outros factores, que devemos distinguir e compreender caso queiramos seleccionar eficazmente as nossas aves.
Esta mutação pode ser descrita em termos muito simples como substituindo toda a pigmentação preta por laranja, seja em aves de base clássica ou combinações. Pessoalmente acho esta mutação mais apelativa e vistosa em aves de boa linha castanha. O contraste com a tonalidade castanha e o peito laranja (embora possa não o parecer) torna as aves mais interessantes visualmente que em aves de linha cinzenta. A combinação mais eficaz será com a mutação face-preta. As duas mutações não interagem pelo que o efeito de ambas é perceptível nas aves. Neste caso a extensão de marcações pretas originadas pela face-preta, aumenta a área de acção do peito laranja, criando aves com uma coloração laranja desde a face e pescoço até abdómen. Também a redução ou eliminação dos pontos brancos típicos dos flancos pela mutação face-preta permite um aumento da área atingida pela mutação. A maior ou menor intensidade desta extensão não depende da qualidade dos peito laranja usados, mas mais da extensão e penetrância do gene face-preta. Se possível, serão de preferir aves face-preta extremas.
Como mutação recessiva a sua selecção deverá ter em conta a valorização da qualidade dos descendentes em relação aos pais. Os acasalamentos entre indivíduos recessivos não trazem qualquer problema neste caso podendo mesmo melhorar a qualidade da linha. Pela minha experiência acredito, todavia, que no cruzamento entre peito-laranja e outras mutações para o estabelecimento de novas combinações complexas se deverá preferir o uso de acasalamentos tipo recessivo x portador para este factor. Para combinação com o face-preta será de preferir o acasalamento de indivíduos face-preta extremos, como já referido, a fêmeas peito laranja numa primeira geração, escolhendo na segunda de entre os filhos produzidos (todos eles portadores de peito laranja) os exemplares machos com maior extensão de preto no peito e sobretudo, melhor coloração uniforme dos flancos, que seriam acasalados com fêmeas peito-laranja ou, caso não seja possível, recorrendo ao esquema mãe x melhor filho e os dois melhores filhos entre si. A selecção dos exemplares deverá ter em conta a intensidade da cor laranja.
Nesta mutação o tamanho não é condição essencial à exposição de exemplares, sendo mais pontuada a marcação e uniformidade de cor destes. Também a exposição de fêmeas poderá ser considerada, sendo neste caso a postura e conformação o principal ponto.
-
Aves: Ricardo Pereira, Fotografia: Artur Bernardes
- Outras combinações possíveis de interesse são com a mutação peito-preto e pinguim (peito branco), embora no caso dos peito branco os resultados sejam muito variáveis. Combinações com bochecha preta, branco recessivo, malhados e CFW não produzem exemplares de grande interesse selectivo futuro. Mesmo em exemplares diluidos nem todas as situações produzem o efeito final pretendido. Acho que se deve primeiro manter e criar linhas puras desta e doutras mutações individuais antes de se pretender as suas combinações. O efeito de cada mutação tem de ser compreendido não só pela visualização da aves, mas também pela actuação genética e, em parte, bioquímica, antes de se entrar em combinações mais avançadas com resultados inesperados. A combinação com o face-preta e peito preto produz aves com grande extensão da área laranja desde toda a cabeça ao abdómen, todavia encontram-se alguns problemas na conjugação óptima com a mutação peito preto, nomeadamente na extensão das bochechas da face causada pela segunda.
O trabalho de selecção desta mutação será melhor sucedido com o apoio de uma linha castanha, de preferência com exemplares face preta, de bom porte e coloração, que servirá de base a cruzamentos externos. Note-se que esta mutação é uma das contituintes da combinação para o Phaeo (Isabel + Face-preta + Peito laranja + Peito preto), sendo nomeadamente a base destes juntamente com o factor Isabel.
© Copyright, Ricardo Pereira 2000